sábado, 31 de outubro de 2015

Terminal

Eu me lembro dos dias turbulentos de viagens
A gente se arrumava aos corres
Ganhando sempre aquele mesmo ônibus
Sempre com o mesmo destino
E ficávamos pelo menos uma hora perdidos
Andando de um lado para o outro
Buscando entender aquele mundo novo
Estranho
Mas que de mãos atadas, descobríamos juntos

É que eu fiz o mesmo caminho essa semana
O mesmo ônibus, o mesmo terminal, o mesmo banco
E eu fiquei...Perdido
Como se anda sozinho no desconhecido mesmo?
Eu não lembrava mais.
A poltrona do meu lado estava vazia, tão estranho
Tão sem sentido naquele momento, que pensei em voltar
 Mas segui em frente, doeu, machucou, lembrei, relembrei
Revirei todas as lembranças possíveis, e morri por uma hora

Quando minha condução chegou eu fiquei aliviado
Confesso
Eu olhei uma ultima vez aquele terminal, o mesmo, lembra?
Eu olhei e deixei você lá pra trás...
Ou talvez não, é lógico que não, te trouxe junto, claro
Não é uma escolha minha, eu juro
Eu simplesmente as vezes te carrego junto as lembranças
Espero que não se importe, não, não se importe nem comigo
Eu sei que já faz isso muito bem, sinta-se bem por isso

As vezes no caminho me perguntava
Porque a poltrona insiste em ficar vazia?
Se quem se levantou não vai mais voltar, eu sei disso
Algumas pessoas tentaram sentar nela, ocupar o lugar vago
Mas...
Eu não deixei que ficassem, afastei por um motivo que nem sei
Eu sei que ela continua vaga, e se disser que procuro quem a ocupe
Estaria mentindo a mim mesmo, claro

Hoje eu viajo feito um ébrio, quase morto do que um dia já fui vivo
Cruzo os terminais, vendo a ti em cada parada
Tentando me desfazer da tua falta, que ainda me bate
É apenas uma tentativa, que ainda insiste em falhar
Mas que um dia eu vou conseguir, só preciso de mais tempo
E um dia eu vou viajar sem te ver no reflexo dos terminais
Sem te enxergar na poltrona vazia ao lado
Sem ter a ti junto, perdida comigo no caos urbano
Sem te ver parte importante de meus devaneios

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